Ensino de matemática vai mal
Crianças que não aprendem e professores que não ensinam contrastam, no Brasil, com excelentes pesquisas acadêmicas e brilhantes resultados em olimpíadas nacionais e internacionais de matemática.
A maioria das pessoas tem medo da matemática e dentre 41 países, o Brasil ficou em 40º lugar em performance dos alunos. Pior: as notas do Provão dos professores de matemática recém-formados oscilaram em torno da média 1,2. Por outro lado, em pesquisa acadêmica matemática, o país está entre os vinte melhores do mundo, ao lado de Índia, Espanha e Hungria, e com crianças muito bem classificadas nas olimpíadas internacionais, em 15º lugar, no Ranking, com destaque para alunos do Ceará. Que história é essa?
Será a matemática vilã ou vítima desta história? Para a presidente da Sociedade Brasileira de Matemática e Conferencista da 55ª Reunião da SBPC, professora Suely Druck, da Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro, o problema é grave, mas tem solução. As causas contemplam principalmente a péssima formação dos professores de matemática e o ?fanatismo e distorções? geradas entre os educadores, segundo ela, com o fato do ensino da matemática ter que ser contextualizado, de acordo com normas do MEC. "Nem tudo tem modelagem matemática. Chegou-se ao cúmulo de se buscar a matemática em festas juninas, poesias e de se abandonar conceitos teóricos como a algebrização ou o Teorema de Pitágoras, que está deixando de ser ensinado por ser velho. Ora, se ele é velho, imagine os algarismos, será que vão resolver bani-los?" De acordo com Suely, a matemática tem alguns aspectos que a diferenciam de outras áreas. "Ela é seqüencial, você não aprende a dividir se não tiver aprendido a somar, subtrair e multiplicar, nesta ordem. E não se pode pular etapas. Por outro lado se você errar o primeiro cálculo de um problema, você erra-o por inteiro, diferente de uma redação de português, por exemplo, em que se consertam palavras e letras", diz. Baseada em raciocínio crítico e lógico, a matemática é realmente considerada a maior área de dificuldade do aprendizado em crianças, de todo o mundo, mas para a professora, "qualquer criança tem toda a capacidade de aprender matemática, se o processo do ensino for efetivo e correto. É uma disciplina em que a criança busca dentro de si os recursos para dar soluções aos problemas, portanto não é autoritária, gera na pessoa o espírito crítico e de independência, exige uma concentração maior para as tarefas e, diante disso, seu ensino é considerado, nos Estados Unidos, área de segurança nacional, à medida que sua falta é um obstáculo ao desenvolvimento econômico".Os professores que estão sendo formados para ministrar matemática, e isto já ocorre há mais de vinte anos, freqüentam, em sua maioria, faculdades privadas onde são aprovados embora desqualificados, "e por isto o Provão apresentou estes resultados, mesmo tendo exigido matemática apenas de segundo grau e quase nada do terceiro", afirma Suely.Segundo ela, o perfil das faculdades de matemática contempla alunos com origem humilde que, por sua vez, já tiveram má formação escolar. "São futuros professores aos quais não são oferecidas bibliotecas, atividades de pesquisa e que também não podem adquirir livros. Este também é o perfil dos que ingressam na faculdade pública, mas aí eles encontram dificuldade para se formar porque são mais exigidos e podem dispor de maior material para formação".
Por outro lado, já formados, os professores trabalham em torno de 10 horas por dia e sua remuneração não contempla um orçamento que dê acesso a livros e cursos. Embora reivindique algumas reformulações, a professora da UFF é a favor da manutenção do Provão. "Via mídia, a sociedade tem acesso aos resultados do Provão e pode se mobilizar cobrando a correção dos problemas, com a fiscalização das faculdades e os implementos de Estado para se melhorar o ensino da matemática nos três graus". Lembrando que o ensino da matemática está ruim também nas escolas particulares ? "existem algumas ilhas de excelência, é verdade" ?, Suely sugere que sejam ouvidas as propostas da Associação Brasileira de Matemática, da qual é a atual presidente.
Em texto publicado no "Jornal da Ciência" de 11 de julho deste ano, ela detalha pesquisas realizadas e projetos positivos com ensino de matemática, inclusive o "Numeratizar", implantado no Ceará. "Se somos capazes em pesquisa matemática e se mostramos talentos nas olimpíadas matemáticas brasileiras e internacionais, talentos estes colhidos entre crianças inclusive extremamente pobres de cidades do interior, podemos ensinar matemática para todos", finaliza.
Fonte: Agência Notisa
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